O governador e a Obra
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A reunião é chamada informalmente de Palestra do Morumbi, numa alusão ao bairro onde se localiza a sede do governo do Estado de São Paulo. Alckmin e um grupo de empresários, advogados e juristas recebem preleções de cerca de 30 minutos sobre virtudes cristãs, seguidas de uma troca de impressões. O encontro periódico, realizado à noite, começou numa sala reservada do palácio e depois foi transferido para a ala residencial.
A idéia, segundo Di Franco, surgiu de uma conversa do governador com o padre Teixeira. Alckmin aproximou-se do sacerdote da Obra anos atrás por orientação de sua prima em primeiro grau, a numerária Maria Lúcia Alckmin - que, por coincidência, tem o mesmo nome da primeira-dama. 'Ele me ligou um dia, quando ainda era vice-governador, e perguntou se eu conhecia um sacerdote com quem pudesse se confessar. Eu indiquei o padre Teixeira', conta Maria Lúcia. O religioso promoveu a amizade entre Alckmin e Di Franco. Um dos participantes do encontro, o desembargador aposentado e professor de Direito da USP Paulo Fernando Toledo, diz que o governador tucano é um dos 'alunos' mais aplicados: 'Ele toma nota de tudo'. Outro membro do grupo, José Conduta, dono da corretora Harmonia, relata que Alckmin não faltou a nenhuma reunião, mesmo quando disputava a reeleição, em 2002. 'Me surpreendia o fato de ele encontrar agenda', comenta.
Entre os membros do Círculo, como é chamado o encontro, estão João Guilherme Ometto, vice-presidente da Fiesp, Benjamin Funari Neto, ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, e Márcio Ribeiro, ligado à indústria têxtil. Todos são católicos praticantes e alguns deles colaboradores da Futurong - obra social idealizada pelo padre Teixeira que atende 285 crianças e adolescentes na periferia de São Paulo.
Os laços do governador com o Opus Dei iniciaram-se com a família. Seu tio, José Geraldo Rodrigues de Alckmin (1915-1978), ministro do Supremo Tribunal Federal indicado ao cargo pelo então presidente, general Emílio Garrastazu Médici, foi o primeiro supernumerário do Brasil. Mas foi o pai do governador, Geraldo José, quem lhe trouxe, pela primeira vez, um conselho extraído do Caminho. Alckmin carrega o bilhete com o ensinamento número 702 de Escrivá na carteira há quase 30 anos. O pai não pertencia ao Opus Dei, mas à Ordem Terceira de São Francisco. Quando era prefeito de Pindamonhangaba, em 1978, data do cinqüentenário do Opus Dei, Alckmin homenageou Escrivá batizando uma rua da cidade com seu nome.Primo do governador, o ex-numerário José Geraldo Alckmin (os nomes José Geraldo e Geraldo José são repassados a cada geração) diz que a ligação se iniciou com a necessidade de anulação do primeiro casamento de dona Lu Alckmin. 'Ela casou-se e foi para Londres com o marido. Quando chegou, descobriu que ele vivia numa comunidade hippie. Voltou para o Brasil e namorou meu primo', conta. 'Como meu tio é muito católico, queria um casamento religioso. Foi aí que entrou o Opus Dei, para obter a anulação.' A prima Maria Lúcia nega que a Obra tenha intercedido junto ao Vaticano. 'Foi um reconhecimento de nulidade do matrimônio e não vejo nenhuma possibilidade de o Opus Dei ter definido isso', afirma. Alckmin e dona Lu casaram-se em 16 de março de 1979.
ÉPOCA solicitou uma entrevista com o governador sobre sua relação com o Opus Dei, por meio de sua assessoria, repetidas vezes. A primeira foi há quatro semanas. Não obteve resposta. Na entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em dezembro, no qual Alckmin anunciou publicamente que era candidato à Presidência, o editor de ÉPOCA Guilherme Evelyn perguntou sobre sua ligação com a Obra. O governador disse apenas que seu tio era do Opus Dei e seu pai franciscano. Em seguida, declarou-se amigo do rabino Henry Sobel e fez uma preleção sobre preconceito e pluralidade religiosos.
Eliane Brum e Ricardo Mendonça, da revista Época