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domingo, setembro 11, 2005

Augusto Nunes

Severino já vai tarde

Continuação
A escolha equivocada anabolizou a embrionária dissidência liderada pelo petista mineiro Virgílio Guimarães. (Pouquíssimos sabiam que fora ele quem apresentara Marcos Valério a Delúbio Soares.) Se não vencesse, ao segundo turno decerto chegaria.
Assim pensavamos deputados que subestimaram o tamanho do baixo clero” – um balaio que junta novatos atarantados, anônimos de carteirinha, oportunistas irremediáveis, trombadinhas de terno e gravata, ressentidos fundamentais. Chegara a vez de Severino, pressentiu a turma.
Único e eterno arcebispo do baixo clero”, o deputado pernambucano Severino Cavalcanti sempre estivera a poucos centímetros da cadeira do presidente da Câmara. Quando entrou na disputa de 2003, era o primeirosecretário da Mesa. Parece pouco. É um cargo e tanto.
O presidente manda muito, claro. Mas cabe ao primeiro-secretário tomar decisões que rendem simpatias, reverências, gratidão e, sobretudo, votos. Quem ocupa o cargo administra os contratos da Câmara. Esses trunfos levariam Severino ao coração do poder. E, agora, à derrocada.
Chegou ao segundo turno com os votos do “baixo clero”. Chegaria à presidência com o apoio de dezenas de deputados do PSDB e do PFL. Quando a corrida ficou restrita a Greenhalgh e Severino, mesmo oposicionistas sensatos cederam à tentação de fuzilar politicamente o governo Lula. Os disparos atingiram o alvo. Mas provocariam efeitos muito mais devastadores na Câmara.
Fruto do cruzamento da incompetência do governo com o oportunismo da oposição, Severino tornou-se o terceiro nome na linha sucessória presidencial. Logo se acertou com Lula, que presenteou o novo amigo com um emprego federal para um severino júnior. O negociante não conseguiu “aquela diretoria da Petrobras que fura poços”, mas alugou o Ministério das Cidades. E alojou no Tribunal de Contas da União o ex-deputado Augusto Nardes, incapaz de avaliar honestamente uma conta de luz.
O fim iminente de Severino só pode ser festejado por deputados que lhe negaram o voto. Que se calem os que, hoje arrependidos, ajudaram a humilhar o Brasil.

Fonte: JB Online