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domingo, setembro 11, 2005

Elio Gaspari

Continuação
Destina-se a erguer uma barreira para os brasileiros que tentam entrar nos Estados Unidos em busca de trabalho e oportunidades. Para agrado do governo de George Bush, o presidente Vicente Fox investiu-se da condição de guarda do serviço de fronteiras dos Estados Unidos.
Muita gente boa usa a expressão "ilegais" para qualificar esses brasileiros parecidos com alguns personagens da novela "América".
Erro. "Ilegais" são os soldados americanos no Iraque. Os estrangeiros que vivem nos Estados Unidos sem a devida documentação continuam lá porque são muito bem-vindos para os americanos que lhes dão emprego.
Esses trabalhadores pagam impostos e robustecem a economia do país, injetando-lhe mão-de-obra pouco qualificada e muito barata.
Há mais de um milhão de brasileiros trabalhando nos Estados Unidos.
Eles remetem a Pindorama cerca US$ 2,5 bilhões por ano. Desde outubro passado, 28.300 foram temporariamente detidos pela polícia americana. Comem o pão que Asmodeu amassou. São achacados, morrem de sede no deserto e, quando chegam a lugares seguros, começam uma nova vida devendo US$ 10 mil aos mercadores que os transportaram.
A emigração de brasileiros para a América é um fenômeno recente, da segunda metade do século passado. Os americanos e seus prepostos devem lembrar que o Brasil recebeu no século XIX a maior corrente migratória espontânea da história dos Estados Unidos. Entre 1865 e 1875, pelo menos 154 famílias de sulistas derrotados na Guerra Civil vieram para o Brasil.
A atenção que os companheiros de Brasília dão aos emigrantes do século XXI é a da refinada demagogia. Os ministros Jaques Wagner e Luiz Dulci andaram por Boston e Nova York, onde estão mais da metade dos brasileiros residentes nos EUA. Reuniram-se com os trabalhadores, prometeram isso e aquilo e voltaram para os hotéis. A nova barreira é vista com simpatia por funcionários que detestam ser incomodados pelos problemas da choldra.
Lula saiu por aí perdoando dívidas de sobas africanos e acredita ter iniciado uma nova era no processo de integração latino-americano. No governo de FFHH o visto mexicano foi dispensado (por iniciativa mexicana) e no seu foi restabelecido.
Pior: o atual ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia acha que a avacalhação é pouca. Ele disse que "está na hora de arejarmos a legislação" que exige vistos de entrada no Brasil aos cidadãos dos Estados Unidos. Tramita na Câmara, sem oposição da bancada-companheira, um projeto que isenta os turistas americanos do visto brasileiro. Pedem-se vistos aos americanos porque os americanos pedem vistos aos brasileiros. Basta que o governo americano dê a Pindorama a facilidade que dá a 28 nações européias e asiáticas e a exigência do visto brasileiro cai no dia seguinte. A burocracia, os constrangimentos e os custos que o governo americano impõe aos brasileiros são, de longe, superiores às exigências que se fazem aos americanos que desejam entrar no Brasil.
Na alta diplomacia, "nosso guia" já conseguiu montar uma inédita sala de fracassos. Atolaram seus candidatos a diretor da Organização Mundial do Comércio e a presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento. A reforma da ONU, que daria uma cadeira ao Brasil no Conselho de Segurança, foi a pique com a colaboração da China e dos países africanos, todos parceiros estratégicos da diplomacia-companheira. Admitindo-se que exista uma baixa diplomacia, aquela que afeta diretamente os brasileiros pobres, a barreira mexicana é um monumento à eficácia do lero-lero.

Fonte: Globo Online