O povo quer mais que grades e jardins
Ednelson Prado
Mas repito, passo todos os fins de semana em Ubatuba, e acompanho diariamente os acontecimentos desta cidade, seja pelos jornais, pela internet ou pelos constantes telefonemas que recebo de amigos que fazem questão de me contar os desmandos que continuam ocorrendo na terra de Iperoig.
Sobre não ter conhecimento dos feitos do ex-presidente Jairo dos Santos, gostaria mesmo de continuar sem saber, porque o que me interessa são os realizados em prol da população, da cidade e não na defesa de interesses políticos próprios e dos seus. De toda a apresentada pelo nobre vereador, pelo que vi, não foram nem duas as atitudes que beneficiaram a população. Na verdade, nos foi apontado um verdadeiro desfile de benfeitorias para a Câmara, os vereadores e seus funcionários. Grades para o prédio e jardim, etc.... Até mesmo a transmissão das sessões da Câmara, que poderia ser considerada como democratização da informação e o acesso da população aos acontecimentos do legislativo, infelizmente, é utilizada, muitas vezes, como uma forma simples de campanha. Mas neste caso, confesso, não é um privilégio apenas de Ubatuba, mas de praticamente todo o Brasil. As transmissões legislativas servem, geralmente, muito mais para discursos vazios e tentativas demagógicas dos legisladores de tentarem se mostrar como perfeitos defensores da sociedade do que para levar ao eleitor a discussão de assuntos de interesse público.. Prova disso é o aumento no tempo de duração das sessões, em comparação ao período em que elas eram apenas transmitidas via emissoras de rádio.
Diante das colocações feitas pelo nobre vereador, venho reafirmar o que disse anteriormente: o hoje legislador, e ex-presidente da Câmara, fez, a meu ver, muito mais pela população de Ubatuba como presidente da Associação dos Povos Caiçaras do que depois de ter sido mordido pela mosca azul da política, frase que está na moda.
Para terminar, quero apenas registrar e dizer ao nobre vereador, que já cheguei a admirar (antes do cargo eletivo, é claro), o seu trabalho, mas no momento, não tenho muito a elogiar.
Além disso, ressalto que meus textos e artigos são escritos por mim, e não por assessor de imprensa, assessor parlamentar, ou por qualquer parente. Afinal, poderia citar vários autores, além de Paulo Freire, para justificar minhas colocações, mas isso não acrescentaria em nada, porque a pura verdade o povo já conhece: grande parte dos nossos políticos é boa de discurso, mas extremamente fraca em ações.
Nem tapando os ouvidos
Já que tirei o dia para a escrita, aproveito para abordar outros assuntos, além da política. Agora, a questão é de bem estar. Na edição do dia primeiro de fevereiro da revista Veja, na página 18, na coluna Ponto de Vista, escrita por Claudio de Moura Castro, o assunto eram os excessivos decibéis que atormentam diariamente os brasileiros.
No artigo, Cláudio fala de sua volta ao Brasil, depois de 15 anos morando na Suíça, e faz uma comparação entre os dois países. Mas não uma analogia quanto às questões políticas e financeiras. Ele faz um comparativo quanto ao barulho registrado nas cidades brasileiras e nos municípios suíços. O autor fala com indignação sobre a falta de respeito que os brasileiros têm com o próximo, a partir dos exageros sonoros cometidos desde a utilização de buzinas, passando por caixas de sons nos veículos até chegar a escapamentos extremamente ruidosos.
Confesso que entendo a indignação de Cláudio de Moura, mas garanto a ele que tal insatisfação seria ainda maior se ele estivesse em Ubatuba no último fim de semana, mais precisamente no sábado à noite, quase início de domingo.
Quem transitou pela região central da cidade sabe do que falo. Um show, em uma casa noturna, pôde ser ouvido por muitas outras pessoas, além daquelas que tiveram o prazer de se dirigir ao estabelecimento. Afinal, o som era tão alto que as músicas eram ouvidas por todos, mesmo que não quisessem. Tecnicamente, não posso dizer o motivo (não sou engenheiro de som, e sim jornalista), mas acredito na falta de um trabalho de revestimento acústico que impedisse que o som vazasse daquela maneira. O certo é que foi um grande incômodo (e olha que sou fã do grupo), capaz de perturbar todos aqueles que entendem que a noite também é feita para o descanso, além da “balada”.
O que é difícil entender é como se dá a permissão para a atividade a uma casa noturna que atua com tamanho desconsideração. Não sou conservador, entendo que Ubatuba seja uma cidade turística e que tenha de pagar determinado preço por isso, mas aquilo é um desrespeito que não deveria ser tolerado.
Recordo-me, por exemplo, da batalha travada pelos proprietários de quiosques do Itaguá, que foram proibidos de manter música ao vivo, porque o Ministério Público entendeu que eles não tinham esse direito.
Agora, como é permitido que uma casa noturna presenteie toda a região central com um som tão alto, eu não entendo. Será que a promotoria do meio ambiente poderia explicar, pode ser.
Vejamos: comunidade do Camburi não pode plantar comida para sua subsistência, em nome da preservação ambiental, mas um empresário consegue uma construção em área tão nobre, com a aprovação total da lei. A explicação, neste caso, é simples. A legislação possui brechas, mas só as consegue enxergar e utilizá-las, os mais instruídos, ou que possuem dinheiro para contratar bons advogados para justamente utilizar a lei de maneira satisfatória. Não é ilegal, pode até se imoral, mas não é irregular. Pode não ser a justiça moral, mas com certeza é a justiça legal.
Então, ao articulista Cláudio de Moura Castro, resta apenas uma sugestão: se não quer se estressar ainda mais por conta dos excessivos decibéis, não vá a Ubatuba quando houver shows em determinados locais, a não ser que a promotoria do meio ambiente possa, legalmente, fazer algo para impedir excessos.
É obrigação, não uma questão de escolha
Agora, a questão é de ordem social. Terminou, no último domingo, um projeto que teve o objetivo de tirar das ruas as crianças que tinham por hábito, ou necessidade, tomar conta de carros, durante a temporada.
O projeto teve o envolvimento de muitas pessoas, que entenderam a proposta e que ajudaram na realização de atividades que ocupassem o dia todo desses jovens.
Desde o começo, no entanto, recebi a informação de uma possível falta de empenho de alguns representantes de dois órgãos que têm atuação direta com as questões de defesa dos interesses infantis, o Lar do Menor e o Conselho Tutelar.
Confesso que, no início, pensei que seria pelo fato de o projeto estar no começo, e que o envolvimento viria com o tempo. Ocorre que no encerramento do programa, no último domingo, recebi a informação que um assunto, em especial, deixou transparecer que, para algumas pessoas, a atividade desenvolvida não é feita com o carinho e o cuidado que se espera daqueles que se apresentam como amantes da causa infantil.
Participou do projeto um garoto chamado Lucas, que, pelo que me foi apresentado, enfrenta problemas de ordem familiar muito sérios, mas que encontrou no projeto um local de esperança, de uma oportunidade de mudar uma triste realidade e um triste futuro.
Quem me conhece (os mais próximos) sabe que não sou dos mais sentimentalistas, mas confesso que ao ouvir sua história e o desdobramento dos fatos ocorridos dentro do programa tive vontade de chorar.
O fim das atividades, para ele, representou o fim da esperança e a volta às ruas. Segundo o que apurei, isso ocorre porque um membro do Lar do Menor não quis levá-lo para o abrigos, por se tratar “de um garoto de risco”.
Claro que em um primeiro instante, ouvi tudo de forma passiva, mas o relato dos fatos foi me indignando de tal forma que decidi escrever este texto para alertar a todos sobre o ocorrido.
Espero estar enganado, gostaria de ver essa situação resolvida, porque um jovem, que anda pelas ruas, dia e noite, com medo de dormir, porque sabe que quem dorme nas ruas pode acabar morto, como já ocorreu com outras crianças, em outras cidades, precisa de atenção.
Porque se queremos melhorar nosso país, precisamos fazê-lo a partir de nossa cidade. Então necessitamos olhar para nossas crianças, principalmente por aquelas que precisam de uma mão amiga, de um conforto, o mínimo que seja. Mesmo que tal conforto se restrinja a uma cama e um prato de comida, sem falar em educação e saúde, direitos constitucionais de qualquer pessoa.
Diante de tudo isso, chamo a atenção das autoridades locais, da prefeitura, da Vara da Infância e da Juventude, de quem quer que seja, para que analisem esse caso, busquem os fatos, a verdade, e intercedam por este garoto que, para muitos, pode ser mais um menino que vive nas ruas, mas que, na verdade, é uma criança que merece ser tratada com respeito e dignidade, e que tem o direito de ter uma vida melhor, uma esperança, e não apenas o medo dormir, para não morrer vítima da violência. Sem saber, ao menos, que já é vítima da violência social deste país, dos agentes políticos e daqueles em quem deveria confiar, porque se apresentam como defensores das crianças e jovens, mas que deixam de cumprir seu papel, sua obrigação, de estender a mão, apenas porque “é um garoto de risco”, como se isso, por si só, não representasse motivo suficiente para receber toda a atenção do mundo.
Façam alguma coisa, isso não é um pedido, é um apelo.
Ednelson Prado é jornalista - MTB 35173
ednelsonfsprado@ibest.com.br