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terça-feira, dezembro 05, 2006

No país do buraco negro

Continuação
Joe Sharkey alimenta o seu blog quase que diariamente com artigos cáusticos sobre a tragédia brasileira. É nítida a missão de que se incumbiu de libertar os dois pilotos do Legacy, afinal, eles salvaram a sua vida. Sem que as investigações sejam concluídas não se pode excluir a responsabilidade de ninguém, mas os dois pilotos tiveram uma perícia extraordinária de pousar o jato da Embraer depois da colisão. Isto porque um piloto de uma aeronave de carga, que falava inglês fluente, os orientou sobre a posição na base da aeronáutica na selva amazônica, uma vez que eles não conseguiram comunicação com os controladores brasileiros.
O jornalista considera que os pilotos estão sendo mantidos em condição análoga de reféns, quando deveriam ser tratados como heróis e mandados para casa em primeira classe, o que parece inevitável considerando-se as patuscadas do governo brasileiro. A colisão das duas aeronaves foi provocada por um conjunto de falhas humanas e de equipamentos, mas acabou como uma tragédia anunciada porque o governo não reage com altivez. Evasivas e desmentidos não resolvem a crise de confiabilidade de um serviço público que o brasileiro tinha certo que era um dos melhores do mundo, especialmente depois dos bilhões investidos no Sivam.
Se é verdade que os radares não funcionam, que aeronaves desaparecem em pontos negros e que faltam controladores de vôo é forçoso admitir que voar no Brasil é quase que um pedido para morrer. O espaço aéreo brasileiro se equivale às estradas precárias do País e o governo faz o quê? Nega as evidências do apagão aéreo e promete que tudo vai melhorar com uma operação tapa-buracos ainda antes das férias de verão. Como qualificou Sharkey, o ministro da Defesa, Wonderfull Waldir, vive com a cabeça em outra órbita: ora diz que não foi informado de determinado problema ora simplesmente nega que haja buraco negro, radar obsoleto ou contingenciamento de recursos. Como disse o José Simão a única coisa que voa no Brasil é o ministro da Defesa.
O problema, ministro, é que neste céu de brigadeiro nem avião de carreira se vê mais. E que desrespeito com as famílias dos mortos no acidente do vôo 1907! A Aeronáutica, a Infraero e a Anac sabiam que não havia sobreviventes, mas esperou 48 horas para dar a notícia. Então é função do Estado criar expectativas para que a desgraça seja menos indolor? Escrevi neste blog que os atrasos seriam assimilados pelo brasileiro e se tornariam coisa normal. É o que aconteceu, para o espanto de um holandês que suportou uma demora de três para conseguir uma conexão no Aeroporto de Congonhas. O que mais intrigou o cidadão acostumado ao hermetismo europeu foi a ola que os passageiros faziam a cada vôo confirmado na caótica sala de embarque. Um prato e tanto para reforçar os argumentos de Joe Sharkey.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (PFL-GO)


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