Continuação
As promessas dos candidatos, tanto agora como no passado, pecam, muitas vezes, pelo abandono das premissas que correspondem a cada uma. Todos querem o desenvolvimento do País, por exemplo, e apresentam-se como capazes de realizá-lo, simplesmente, porque esta é a prioridade de seus programas. O papel aceita tudo, o voluntarismo dos candidatos, também. Mas, a verdade nua e crua é que a proteína imprescindível do crescimento econômico, sua grandeza, é relação direta do volume dos investimentos públicos e privados realizados. De onde virão os recursos para esses investimentos, no montante necessário? Nessa questão, parece-me que só um invocou e fundamentou esta prioridade com realismo.
Em recente artigo (“A Economia vai bem, ora, pois!”), mostramos que a União não tem folga orçamentária, ou fiscal, para fazer investimentos significativos. Por outro lado, o Brasil ainda não alcançou o “investment grade” da Moody´s, organismo internacional que avalia a capacitação dos países para atrair investimentos estrangeiros, portanto, deverá continuar a reboque dos grandes emergentes – Índia, China, Rússia, etc. na preferência dos investidores. Acresce que o problema que, atualmente, o país enfrenta, não é, apenas, o baixo crescimento econômico, mas, também, as conseqüências da desastrosa política externa deste governo que invalidou a ALCA, não conseguiu abrir nosso comércio com a União Européia, reconheceu a China como uma economia de mercado (o que nem os Estados Unidos, ainda, fizeram). Como resultado, o país começa a sentir diminuídas suas perspectivas de aumento de exportações e constata um aumento das importações. Comentando estes fatos, Celso Ming, em “O Estado de São Paulo”- caderno B2, de 15/08 p.p., chamou a atenção para a concorrência que os produtos chineses , coreanos e de países da Europa oriental estão fazendo aos produtos da indústria brasileira, não só no mercado interno, mas, mais preocupante, nos mercados externos. E, salienta, que não haverá virada de jogo sem modernização da indústria, incorporação de tecnologia, aumento de produtividade, redução dos juros e da carga fiscal. Como não haverá redução dos juros e da carga fiscal sem queda das despesas públicas, fica claro que o candidato/a que não considera isto importante estará apenas prometendo o impossível. Dois candidatos, no debate, apresentaram-se, claramente, em posição divergente nesta questão. Esta é uma decisão puramente política e técnica, de efeito a médio prazo. Obviamente, se for possível fazer cair mais os juros, recursos adicionais orçamentários poderão engrossar os investimentos. Não entender, porém, o papel da taxa de juros numa economia aberta de mercado é viver no mundo da lua. Esta é uma peça clássica e fundamental no controle da inflação, como temos visto em todos estes últimos 12 anos de estabilidade econômico-financeira e é usada em todos os demais países de economia de mercado. No Brasil, todavia, diferentemente, dos demais, significativa parcela da taxa de juros é causada pela ação do próprio governo federal que recolhe ao Banco Central cerca de 47% dos depósitos à vista nos bancos, contra 20, 10 e até, apenas, 4 ou 5 %, em outros países; que taxa as operações financeiras e bancárias fortemente; que é o maior tomador da poupança nacional para rolagem da dívida pública, estabelecendo o piso dos juros. É estúpido tratar a atividade bancária como agiotagem, ou extorsão, numa economia de mercado. As empresas de crédito direto ao consumidor poderiam, em alguns casos, ser qualificadas como tal. O sistema bancário como um todo, não. O lucro dos bancos, como os de qualquer empresa do setor privado que atua em regime de concorrência, apenas demonstra sua vitalidade, cabendo ao governo taxar lucros através do Imposto de Renda, de modo a desconcentrar a renda, beneficiando toda a economia do País pela eficiência de cada setor lucrativo. A taxa dos juros reflete não só essas ações do governo, como tem de acrescer o custo da inadimplência, dos custos operacionais dos bancos, do risco inerente a cada operação, etc.. Socialistas retrógrados e comunistas empedernidos não conseguem entender a dinâmica do sistema capitalista, mas, fazem ouvir aos quatro ventos suas idéias inconsistentes com o sistema econômico em que vivem. Pior é que por sua ação a maior parte da sociedade brasileira considera o lucro como um pecado. Nas sociedades mais avançadas do mundo, lucro é virtude, razão de orgulho. É o resultado do risco assumido, da inteligência aplicada, do empreendedorismo qualificado, da oportunidade aproveitada, da poupança realizada, da eficiência no gasto, da convicção no potencial individual.
Voltando ao debate, um dos mais sérios candidatos, Cristóvão Buarque, homem digno e competente, focou sua prioridade, quase exclusiva, na revolução da educação, com o propósito de aprimorá-la e eqüalizá-la em todo o território nacional. Bela bandeira, pela qual vale a pena lutar até pela excessiva ênfase. Não podemos, todavia, centrar somente nela o desenvolvimento de nosso País. Lembremo-nos de que, quando essa revolução estiver produzindo resultados na magnitude desejada, antes de 25 anos não veremos seu impacto sobre a qualidade geral do homem brasileiro, a exemplo das experiências vividas pelos Tigres asiáticos, Índia, China, Japão, cujas populações ostentam hoje um altíssimo grau individual de qualidade cultural, técnica e profissional. É preciso atuar, concomitantemente, sobre outros vetores do desenvolvimento econômico para uma reação a médio prazo, tão necessária.
Por fim, a proposta de 1 milhão de assentamentos agrícolas por 4 anos! Será isto possível, com a correspondente desapropriação de terras, assistência técnica , qualificação para o trabalho, financiamento da produção, infraestrutura social em escolas públicas, postos de saúde, serviços públicos diversos, vias de escoamento e comunicações? Alguém, percebendo a inexeqüível dimensão desta proposta, aventou que se ocorresse, mais seria uma favelização do campo, do que uma reforma agrária viável e conseqüente.
Estas são, apenas, algumas observações sobre esse debate, no sentido de despertar a capacidade crítica de cada leitor.
Bons candidatos são aqueles que com coerência apresentam suas prioridades. Voluntarismo e papel bonito aceitam tudo, nem sempre a realidade subjacente.
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