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terça-feira, abril 25, 2006

A culpa é da burguesia?

Continuação
Particularmente, esgotei a minha capacidade de espanto diante de tais barbaridades. Se o aluno toma conhecimento dessa estranha orientação, de que forma terá estímulo para demonstrar apreço pela língua portuguesa?Ao mesmo tempo que isso ocorre, especialistas em educação apontam erros mais freqüentes anotados nas provas dos acadêmicos:

1. Falta de adequada ordenação de idéias, o que prova não ter o aluno o hábito de escrever;
2. Falta coerência e coesão nos textos;
3. Inadequação ao tema proposto (por falta de familiaridade com o tema indicado, o aluno foge para outro mais confortável);
4. Dificuldade em estruturação de parágrafos;
5. Erros de concordância nos tempos verbais, fragmentação da frase, separando sujeito do predicado por vírgula, utilização equivocada de verbos e pronomes, o que em alguns casos leva até a prejudicar a compreensão do texto.

Se isso é verdade no texto das redações, é fácil imaginar o que ocorre quando o indivíduo se expressa verbalmente, em que as agressões ao vernáculo doem em nossos ouvidos.
Se os alunos têm dificuldades de escrever e expor com clareza suas idéias é porque sua cota de informação e leitura é mínima, para não dizer inexistente. Tenho insistido na vergonha em que se constitui a nossa taxa anual de leitura: menos de dois livros por pessoa, o que nos coloca muito longe das nações mais desenvolvidas.
Volto às escolas de ensino fundamental e médio para lamentar que os seus professores sejam instados a abandonar a idéia da redação, "porque em geral os temas dados aos alunos são irreais".
Além disso, há o desprezo pelas regras gramaticais e ortográficas, como se houvesse um desejo recôndito de prestigiar a ignorância. Não se quer exagerar os cuidados com a norma culta da língua, mas por que valorizar o linguajar sem regras? A educação não existe exatamente para conduzir os alunos ao aprendizado?

Sobre a redação, permito-me discordar frontalmente da tese enunciada. A ser verdade o que foi proclamado por tais escolas, ninguém mais poderia ser escritor, dando asas à imaginação. Só se poderia escrever sobre vivências claras, com o evidente abandono de tudo o que pudesse privilegiar a criatividade.

Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor

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