Continuação
Nossos diários, acima citados, tem assumido papel preponderante sobre os demais veículos da imprensa escrita, no registro da história cotidiana deste país em tempo real, havendo assumido, com muito mais profissionalismo e menos sensacionalismo, superficialidade e irresponsabilidade, o papel que até recentemente fora desempenhado pelas várias revistas semanais - Veja, Época, IstoÉ. Estas, exatamente pela evolução qualitativa dos jornais diários, passaram a ocupar-se mais com temas variados de saúde, alimentação, estética, sexo, matérias científicas, históricas, etc. e quando decidem, ainda, investir prioritariamente em escândalos políticos, financeiros, criminais, abordam-nos, quase sempre, de forma tendenciosa, pouco ética, mais preocupados com o impacto da notícia na vendagem de suas edições, do que com a veracidade profunda dos fatos abordados. Isto não vem de agora, na realidade, sempre foram assim. Contrastam, porém, atualmente, com a supremacia qualitativa e a cobertura instantânea e competente dos diários.
Voltando à edição do programa “Observatório da Imprensa” de 09/05, constataram os panelistas que a despeito de possuirmos uma imprensa escrita de tal padrão, de perspicaz capacidade de análise e investigação conclusiva, somos, todavia, muito poucos os que lêem esta imprensa e conseqüentemente, sua influência sobre o pensamento geral da nação só chega a impactar as classes mais educadas, permanecendo as menos favorecidas pela inteligência e capacidade de entendimento à mercê das notícias telegráficas e documentários resumidos da televisão, de substância inferior, por vezes tendenciosos, ao sabor dos interesses políticos predominantes, sob o tacape da subtração da publicidade oficial e estatal. Bastaria, para comprovar, analisar as pesquisas de opinião entre as classes A, B e C e notar a discrepante diferença de convicções entre estas e as inferiores. Em recente pesquisa IBOPE, por exemplo, o conceito do governo Lula é baixíssimo entre essas classes mais aculturadas.
Não foi uma tentativa ingênua, pois, a que o governo Lula intentou, ao propor a criação de um Conselho fiscalizador da imprensa, no início de seu mandato, elemento importante para a consolidação do projeto de poder que tencionavam. Não fosse a forte reação havida e provavelmente, estaríamos, de novo, a sofrer o autoritarismo de outro DIP, o truculento “Departamento de Imprensa e Propaganda” da era Vargas. Como o intento não foi obtido, todavia, da forma desejada, investiu-se contra alguns alvos notáveis. Estão aí abafados, os casos das demissões de Boris Casoy, da TV Record e mais recentemente, de Franklin Martins, da TV Globo, dois extraordinários comentaristas políticos que vinham incomodando os donos do poder, numa interferência, a voz corrente, de intromissão direta do governo federal na liberdade de imprensa. Ainda está, também, para ser melhor explicada, a demissão de Joelmir Beting das Organizações Globo, por um deslize alegado que nos parece irrelevante, face o gabarito profissional desse jornalista e de sua clara independência e influência opinativa. O fato é que foram silenciados dois dos mais destacados jornalistas e comentaristas da televisão e transferido outro para veículo informativo de menor penetração.
Lamentavelmente, a existência e desenvolvimento desta qualificada imprensa contrasta com a qualidade intelectual de uma sociedade majoritariamente composta de analfabetos funcionais, gente, portanto, sem aptidão mental para o desenvolvimento do pensamento analítico e crítico, incapacitada para compreender, mesmo superficialmente, a realidade nacional em que vivem, o que os leva a não entender, sequer, os fatos que afetam negativamente suas próprias vidas e dos quais alienam-se em partidarismo nefasto, forjado pelo populismo que avassala o país.
Eis aí, um dos fortes ingredientes da contínua relativa popularidade de um Presidente que chefiou, queira ou não, pois esta é responsabilidade inerente ao cargo que ocupa, o maior esquema de corrupção já visto neste país e que no dizer de Silvio Pereira, até ontem prócer destacado dessa máquina infernal de corrupção e hoje, apenas, um desequilibrado emocional, perpetua-se através das dezenas de outros Marcos Valérios, nos contratos de publicidade das estatais, nos esquemas financeiros e achaques a bancos, na extorsão de empresários, tudo valendo para o financiamento desse grande projeto de poder, pelo poder, sem contrapartida em projeto político de significativo impacto sobre a nação.
É, pois, uma contradição em termos, a existência de uma efetiva democracia quando recheada de analfabetos puros e funcionais. Esta a principal razão, a nosso ver, do descompasso entre a avaliação da efetiva responsabilidade dos crimes cometidos contra o país e o contínuo relativo prestígio do seu principal responsável.
Foi-se o tempo em que se atribuía ao catolicismo romano a intenção premeditada desta falência cultural. Hoje precisa ser atribuída a quem, de fato, mais dela tira vantagem.
efcardosojr@uol.com.br
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