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segunda-feira, maio 29, 2006

Reflexão sobre Ubatuba

Continuação
Em determinada ocasião, ao recebermos aqui em nossa cidade em um evento o Superintendente do IBAMA, corrigi o então prefeito que em determinado momento, afirmou que nossa cidade era turística. Argumentei que na verdade éramos uma cidade de veraneio e que o verdadeiro turismo ainda era pequeno em comparação ao volume de veranistas.
Considero que o verdadeiro turista que vem a Ubatuba se utiliza dos meios de hospedagem e gastronômicos e na maioria das vezes vem em carro próprio (em alguns casos, por falta por exemplo de uma linha aérea ou marítima), podendo também vir em excursões de onibus. O veranista, normalmente se utiliza de segunda residência própria ou alugada, vem com seu carro em quase 100% dos casos e se utiliza menos de restaurantes. Temos muito mais veranistas do que turistas Para se ter uma idéia, temos em Ubatuba em torno de 20.000 leitos entre hotéis e pousadas (a maior parte dos quais irregulares), sendo que de veranistas em uma temporada, podemos ter até talvez 20 vezes isto. Meu sonho é que um dia possamos inverter esta equação com turistas de qualidade...
Isto posto, com uma concentração de quase 40% do movimento do ano em um período de pouco mais de 40 dias a que chamamos de temporada, temos enormes problemas de infra-estrutura que incluem dentre outros, a segurança, a saúde, o saneamento (lixo e esgoto) e o trânsito.
Este último, tem sido um assunto de recorrente discussão e assim como na seleção, todos são especialistas no assunto. Na verdade, o trânsito, é um dos maiores problemas que temos durante a temporada e que acaba, agravando inclusive, os problemas nas outras áreas que aqui citei. Como assim? É fácil. Durante os engarrafamentos cada vez mais freqüentes nas temporadas e feriados, as viaturas policiais podem ter enorme dificuldade para atender ocorrências. É cada vez mais freqüente por exemplo, o uso de motos em assaltos em grandes centros, justamente pela facilidade de deslocamento (e conseqüente fuga) durante engarrafamentos. Mesma coisa para as ambulâncias ou para alguém que quer chegar à Santa Casa. E o lixo? Se para uma ambulância ou viatura policial equipada com sirenes e luzes é difícil, já pensaram para um caminhão de lixo? Bem, vamos nos colocar agora no lugar de nosso turista. Será que ele, que veio aqui para descansar e relaxar, na maioria das vezes oriundo de grandes centros urbanos gosta de ficar preso no “rush” da temporada? Será que ele gosta de ficar incansáveis minutos em fila brigando por vagas em estacionamento? Será que nestes momentos ele tem uma boa impressão da cidade? A resposta é óbvia não é mesmo? E para nós? Moradores e comerciantes que precisamos nesta época trabalhar mais, será que não seria bom nos deslocarmos com mais facilidade? E para o comércio? Não seria bom que os turistas conseguissem chegar em seu estabelecimento para gastar? Acho que a resposta também é óbvia. Bem, toda e qualquer cidade bem planejada que possui população igual à que recebemos aqui no verão, tem um sistema viário eficiente com áreas de estacionamento e vias que melhoram a circulação dos automóveis em horários de pico, dentre outras coisas. Para isto, são mapeados os pontos de estrangulamento, as carências de vagas de estacionamento, necessidade de semáforos, trevos, etc. e são propostas alternativas de circulação visando a melhoria da fluidez do trânsito. Em Ubatuba não pode ser diferente. Temos que pensar da mesma forma. Entretanto, não podemos nos esquecer nesta equação, de que o comércio que se instalou no chamado corredor turístico/comercial necessita intrínsecamente da passagem dos carros e de áreas de estacionamento, sem os quais estará fadado a esmorecer e com isso os empregos e a economia local. Desta forma, é totalmente compreensível a sensibilidade e o cuidado que políticos e comerciantes locais (especialmente do corredor turístico) têm quando o assunto é alteração do transito. Um dos temas que geralmente é repudiado é quando visando melhorar o fluxo dos veículos, se fala em mão única.:”Gritaria Geral”. Alguns comerciantes sentem enorme medo de ver suas ruas transformadas em mão única. Um amigo meu chamou isto de o “Mito da Mão Única”! As ruas de mão única que estão no corredor turístico ou que são de acesso à cidade e que são de entrada, contradizem este fato. Basta observarmos as ruas Thomaz Galhardo e Guarani. Ambas são mão única e o comércio vai bem obrigado. Talvez se fossem de saída, o comércio não fosse tão pujante. Basta observarmos a Guaicurus e a Conceição. Desta forma, se pensarmos que em nosso plano de melhoria do transito devemos analisar a possibilidade de mãos únicas, deveríamos pensar em fazer com que as ruas de entrada que já têm comércio em funcionamento continuem sendo de entrada e não de saída. Podemos pensar na Capitão Felipe e Leovegildo por exemplo. Aí, chegamos em outro gargalo: A rua Guarani. Particularmente, acho o paralelepípedo um fator que combina com o estilo da Rua Guarani e contribui para que ela seja um dos pontos mais charmosos e turisticamente interessantes da cidade. Poderíamos inclusive considerar que sem ele, a Rua perderá muito de sua identidade. Devemos nos lembrar também que o paralelepípedo é muito melhor para a drenagem de água do que o asfalto. Em chuvas fortes, a Guarani alaga muito menos que a Guaicurus, mesmo se considerarmos as cotas de cada uma. Embora haja pela presença do paralelepípedo uma redução natural da velocidade dos carros ali, este não é o maior problema. Na Rua Guarani, o transito diminui de velocidade por dois motivos principais: O estreitamento do leito carroçável e as depressões de drenagem de água. Podemos pensar então em retirar parte do estacionamento alargando o leito carroçável e a calçada e diminuindo as depressões que fazem os automóveis e ônibus pararem? É claro que podemos, desde que antes, criemos outras opções que não prejudiquem o comércio ali estabelecido. Que tal bolsões de estacionamento nas ruas laterais e na praça Alberto Santos? Veja bem! Sou ambientalista e não estou propondo o asfaltamento da praça, mas sim a otimização de seu uso. Ela poderia, com muito mais arborização (nativa pois as árvores de lá são exóticas) do que tem hoje, ser utilizada parcialmente como estacionamento em períodos de pico e pela comunidade para shows, exposições e contemplação em outras épocas que correspondem a mais de 80% do tempo. Podemos também, para melhorar a largura das calçadas no local, incentivar através de algum benefício fiscal ou de alvará, os imóveis que recuarem suas fachadas, um metro que seja. Que tal? Já existem alguns exemplos disto ali, como o próprio Museu da Vida Marinha que inauguramos em Janeiro. Esta mesma idéia de benefício fiscal (vejam bem srs. políticos–isto é legal, não é palavrão nem renúncia de receita e funciona em outros locais) deveria ser aplicada aos imóveis que na região do entorno da Fundart e Câmara estão voltando à arquitetura colonial. Isto é para melhorar o nível do turismo!! Se eu pudesse daria uma significativa redução de IPTU ou de Alvará à Pizzaria São Paulo, Restaurante Bardolino, Bar do Pirata e à Sorveteria Pistache que ali se instalaram com uma arquitetura colonial. Boas iniciativas devem ser incentivadas para que outros sigam e assim, aos poucos, transformemos nossa cidade. Continuando, temos outro bolsão de estacionamento na altura do aeroporto que pode ter o mesmo caráter de arborização sendo utilizado como estacionamento no período de pico e para pequenos eventos em outras épocas. Nossa cidade sofre uma transformação durante as temporadas, tendo sua população quintuplicada e os espaços públicos devem e podem se moldar à esta realidade. Podemos inclusive pensar em um transito de temporada com algumas mãos únicas e bolsões e em um transito para o resto do ano. Por que não? Ainda em relação ao Itaguá e ao transito, devemos fazer cumprir a lei que proíbe a distribuição de folders ou “panfletagem” na rua. Quem nunca viu como o transito pára na frente do Shopping Porto Itaguá pela distribuição irregular de folhetos de casas noturnas no local? E por que a fiscalização não age? Ali, o transito fica pior do que na Guarani. Ainda em relação ao Itaguá, já que finalmente será liberada verba tão esperada para o local, não podemos nos esquecer das calçadas, lixeiras, iluminação, acessibilidade de cadeiras de rodas, ciclovia, proibição de comércio ambulante, etc. Por último, gostaria de salientar que os tomadores de decisão (no caso o Executivo) devem, ao planejar intervenções em determinado local e mesmo antes da confecção de um projeto com os técnicos, abrir discussão ampla com a comunidade e comerciantes instalados no local para só então executar o projeto e a intervenção que com certeza, ao considerar em seu planejamento os anseios e experiência da sociedade, terá uma maior garantia de sucesso. Gostaria também de solicitar ao conselheiros do recém criado Conselho de Turismo do qual não faço parte, que considerem estes pontos na análise das obras do DADE para o Itaguá e região Central. Ainda em relação ao DADE e Conselho de Turismo, gostaria de sugerir aos Conselheiros que avaliem criteriosamente todos os projetos propostos e em execução com recursos do DADE pois estes recursos só podem ser usados exclusivamente para a criação de infra-estrutura turística. Este não é com certeza o caso do asfalto na Estufa II. Não sou contra a melhoria de infra-estrutura nos bairros de população local. Eu mesmo moro em um local abandonado pelo executivo há mais de 30 anos, sem asfalto, com buracos e mato nas ruas: O Jardim Alice. Adoraria que se lembrassem de nós, mas não com recursos do DADE. Se em um município que se diz turístico, a pasta do turismo recebe em torno de 1% do orçamento ordinário, me parece absurdo e ilegal a destinação de verbas estaduais do turismo para infra-estrutura de bairros da população local. Bem, vou parar por aqui e no caso específico da Rua Guarani e do bairro do Itaguá, ficaremos (as Associações de bairro e comerciantes do Itaguá e Rua Guarani) aguardando então, um contato do executivo para a realização da reunião, pois se nada tivéssemos para somar, no mínimo temos excelente projeto arquitetônico proposto para a praça, feito por arquiteto conceituado da cidade a pedido da comunidade.


Hugo Gallo Neto

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